quinta-feira, 11 de abril de 2013

Acompanhar a migração das renas na Lapónia – Suécia



Acompanhar a migração primaveril de cerca de 200 ou 300 renas em cima de uma mota de neve, é uma das maneiras mais excitantes de viajar pelas vastas tundras árticas. Para além disso, percorrer cerca de 200 km para atravessar a Lapónia sueca permite uma excelente aproximação a um modo de vida diferente e muito antigo, junto do povo Sámi. Tal como os seus antepassados, os Sámi levam os seus animais das terras baixas que ocupam no Inverno para os pastos brandos de Verão na montanha, atravessando lagos congelados, árvores cobertas de neve e grandes vales.
O lar tradicional do povo Sámi, a Lapónia, estende-se desde o norte da Noruega ao norte da Finlândia, ocupando assim toda a Escandinávia setentrional, bem como a península de Kola, na Rússia. Para estes transumantes, a migração começa habitualmente na pequena localidade sueca de Gallivare, a cerca de três horas de carro do aeroporto de Kiruna. Aqui montará uma mota de neve, dirigindo-se então lentamente para terreno mais elevado, com pastos férteis, e de seguida para a montanha de Kallaktjaka, onde nascerão as primeiras crias, no princípio de Maio. Estamos no Parque Nacional dos Grandes Lagos, Património da Humanidade.
Esta viagem faz parte da vida tanto do pastor, como da própria rena, criando um laço especial entre os dois.
Chegada a Primavera, os animais iriam naturalmente iniciar esta migração, escolhendo o seu caminho instintivamente rumo às montanhas. No entanto, sozinhos estariam vulneráveis ao mau tempo e à falta de comida, além de expostos a predadores. Para os Sámi, proporcionar-lhes uma migração segura é essencial, uma vez que as renas são a base do seu sustento, fornecendo-lhes a carne e a pele, cujos excedentes são vendidos. Deste modo, dirigem-se à tundra para guiar os animais nesta viagem crucial. Isto é algo que os Sámi vêm fazendo desde há milhares de anos, permanecendo uma tradição preservada de geração em geração.
A migração foi outrora uma tarefa ainda mais dura. Antes de existirem veículos motorizados, os pastores faziam todo o percurso em skis. Agora podem percorrer a distância muito mais facilmente e em menos tempo. Apesar disso, muitas das tradições não oram esquecidas – muito menos os locais nem a maneira como se pode descansar durante a noite.
Poderá então experimentar passar a noite num lavu, a tenda tradicional deste povo, feita de grosso tecido, em vez de pele de rena, e montada sobre a neve. Apesar de poder parecer uma experiência gélida, não se deixe enganar – peles de rena cobrem o chão e são postas por cima dos sacos-cama, para aquecer. De manhã, isto irá parecer-lhe até confortável demais, quando for acordado bem cedo para dar uma ajuda a juntar o gado e a alimentá-lo – só faz aquilo que quiser.
Os pastores “a sério” estão lá, prontos para se levantarem bem cedo, montar as suas motas de neve e partir à procura de todas as renas, que não permanecem quietas durante muito tempo. Seguindo o seu instinto natural, continuam durante a noite o seu caminho rumo às montanhas, sem esperar.
Mesmo na Primavera, o seu alimento (raízes, líquenes ou musgos) permanece cheio de neve, de modo que os Sámi recolhem e servem-lhes alimento – o slháppu, um musgo tipo arame que cresce nos ramos das árvores. Quando der por isso vai estar cheio de vontade de estar no meio dos pastores a ajudar nas tarefas.
Participar em pleno significa abanar e despedaçar alguns ramos para lhes retirar o musgo, bem como agitar freneticamente os braços para juntar o gado. Esta é uma das tarefas mais caóticas do dia, quando algumas renas tresmalhadas têm que ser convencidas a voltar – acabar no chão com a cara cheia de gelo não será totalmente impossível. Nesta altura, há pessoas, braços e renas por todo o lado. Depois, como que por magia, a maravilhosa calma é sabiamente reposta e a viagem pode continuar.
É difícil não ficar apaixonado pela vida da manada e a sua migração. Cada uma das renas tem a sua personalidade, que se distingue nem que seja pelo abanar da cabeça ou o agitar da cauda. Estes animais dão-nos uma enorme vontade de passar mais tempo com eles e de os ficar a conhecer melhor. Uma rena branca – coloração particularmente rara – é considerada especial em, termos espirituais, pelo que a família que tiver uma na sua posse será extremamente considerada.
Em cada dia, ao longo de uma semana, à medida que segue a manada, e reagrupa e a resguarda de ataques de lobos ou linces, torna-se mais próximo destes animais. Ao concluir a viagem e ao poder observá-los a pastar em terras altas, onde crescerão mais saudáveis e felizes, sentirá um grande contentamento. Um momento que se guarda para sempre – ter-se-á, então tornado um pastor de renas honorário.

0 comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...