domingo, 7 de abril de 2013

Atravessar de carro o Mar de Sal em Altiplano – Bolívia

Poucos lugares no planeta são tão selvagens e de tão difícil acesso como o admirável Mar de Sal em redor de Uyuni, nos desertos do planalto boliviano (Altiplano). Com tão poucas estradas traçadas, explorar a maior superfície salgada do mundo requer o auxílio de um veículo todo-o-terreno e de algum sentido de aventura. A recompensa é estonteante, ao passar pelos vulcões do majestoso Parque Nacional de Sajama, ao encontrar autênticas aldeias de índios Aymara e ao experimentar a sensação de conduzir num mar de sal que se estende até ao horizonte.
A partida para qualquer jornada será sempre La Paz, capital da Bolívia, que, pasme-se se localiza a 3600 metros de altitude. É a mais elevada capital do mundo. Não levará muito tempo até se aperceber da altitude – começa-se a respirar mais depressa logo à chegada ao aeroporto – e vale a pena prever um dia ou dois na cidade para se habituar, antes de se dirigir seja onde for. Erigida num vale arredondado, rodeada de picos da gelada cordilheira dos Andes, La Paz é um fervilhar de actividade, com muitos mercados, interesses culturais e eventos. Diz-se que à três festas para cada dia do ano.

Existem diversos caminhos para subir ao Salar de Uyuni, mas a boa opção é tomar o caminho menos frequentado – o da verdadeira pérola que é o Parque Nacional de Sajama, a sudoeste de La Paz, junto à fronteira chilena. Mesmo dispondo de uma estrada asfaltada até à entrada do parque, o caminho leva umas quatro a cinco horas a percorrer. Atravessando apenas algumas aldeias ao longo do caminho, ficará com ideia da vastidão da paisagem selvagem boliviana, com toda a sua grandeza.
O nome do Parque Nacional vem do pico mais alto da Bolívia, o vulcão Sajama, com 6549 metros de altitude, que, graças ao seu isolamento, é o ponto principal da paisagem num raio de vários quilómetros. Uma espessa camada glaciar desce, em cortina, desde o seu topo e as suas encostas escurecidas mergulham abruptamente no deserto Altiplano. Para os simples índios Aymara e Quechua, Sajama é uma montanha sagrada, que representa a cabeça de Muruata, que foi decapitado pelo deus Wiracocha, como castigo por ser arrogante.A aldeia de Sajama, aconchegada na base do vulcão, é uma miscelânea de casas de tijolo de lama, acotoveladas, muitas delas pintadas de verde, branco e amarelo, possivelmente para dar alguma alegria, contrastando com as tonalidades poeirentas do deserto. A partir da aldeia pode-se alcançar um vale geotérmico, onde se encontram géiseres, fumarolas ou piscinas de lama quente. Com o vapor subindo pelo ar vindo um pouco de toda a parte, o vale parece um campo de batalha. Se tiver sorte, uma lua cheia subirá à noite para iluminar o vale, dando-lhe uma aparência fantasmagórica.

Chegando à aldeia mais próxima, Sabaya, exige-se um começo célere do dia para um desvio ao longo de um trilho muito pouco usado, que contorna a fronteira chilena, via Macoya e Tunupa. A viagem de carro é dura, por vezes, mas avistar espécimes da vida selvagem constitui uma boa distração. Pequenos grupos de nervosos e ligeiros vicunhas (ou vigonhos) vagueiam pela planície. Por volta dos anos 70, estes pequenos membros da família dos camelos tinham sido caçados quase até à extinção devido ao elevado valor do seu pelo.
De Sabaya, uma aldeia de uma só rua e afastada do percurso dos turistas, são apenas alguns quilómetros até ao Salar de Coipassa, a segunda maior superfície salgada depois de Uyuni, que exibe um conjunto de pequenas ilhas junto à margem. Deixando para trás o verde e castanho do terreno, conduzindo por uma pequena rampa de acesso ao sal branco, pela primeira vez tudo se torna enervante. À frente não há mais nada do que montanhas muito distantes. As rodas fazem estalar ruidosamente as formas hexagonais da superfície salgada, que parece uma forma irracional de pavimento. A superfície de Coipassa é menos estável do que a de Uyuni, pelo que a tentação de nos desviarmos do caminho previsto ser refreada. Acelerar pelo sal pode ser bem divertido e a rota leva-nos, eventualmente, a sair do sal rumo a Llica, junto ao extremo noroeste do mar salgado de Uyuni. Alimentada em parte pelo contrabando feito através da fronteira chilena, Llica é uma vila com muita vida, contando com uma população em forte crescimento. É a melhor opção para passar a noite.
Na manhã seguinte, depois de registar a sua saída no bizarro ponto de controlo militar, junto à entrada da plataforma salgada, é tempo de se dirigir de novo para as profundezas desta alva maravilha natural. O Salar de Uyuni foi parte de um gigantesco lago pré-histórico – Minchin – que secou e depositou uma espessa camada de sal, cobrindo cerca de 12 mil km2 e medindo cerca de 130 km de diâmetro. Junto ao centro, é possível encontrar zonas onde se tem uma visão de 360º de terreno perfeitamente alisado, onde compreenderá o verdadeiro significado de silêncio ensurdecedor.


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