domingo, 7 de abril de 2013

Navegar a caminho de Mandalay pelo Rio Ayeyarwady – Myanmar

Com milhares de pagodes, uma forte cultura budista e paisagens rurais ancestrais, Myanmar é uma pérola para o turista. A melhor forma de reviver o poema “Mandalay” de kipling é embarcar numa viagem luxuosa ao longo do rio Ayeyarwady, desde Bagan até Mandalay.
Outrora parte do Império Britânico, quando o país era conhecido como Birmânia, Myanmar atingiu a sua independência em 1948 e, depois de 1962, voltou a ficar isolado sob a influência o regime militarizado de Ne Win. Congelado no tempo por décadas de acesso condicionado a visitantes, revela nos últimos anos uma nova abertura aos estrangeiros. Os seus tesouros culturais e encanto pacífico tornam esta terra, como Kipling reparou na sua primeira visita, “diferente de qualquer outra de que se tenha conhecimento”. Talvez o mais espetacular dos tesouros nacionais seja o extenso e dourado Pagode Swedagon, na capital Yangon. Impossível deixar de ver antes de se dirigir para norte, pelo rio.
Se este pagode é impressionante pelo seu tamanho, a visão de mais de três mil pagodes que o aguardam na cidade de Bagan é inspiradora. A cidade, ponto de partida para a sua viagem de quatro dias pelo rio Ayeyarwady até Mandalay, situa-se na vasta planície aluvial e os seus sensuais e pontiagudos pagodes espicaçam o perfil da cidade de onde quer que a veja. Bagan tornou-se na capital da dinastia birmanesa no século XI e floresceu nos duzentos anos que se seguiram. No seu auge exibia mais de 40 mil pagodes. A maioria encontram-se hoje em ruínas, mas mesmo assim a escolha é difícil – sentir-se-á como um explorador vitoriano, ao encontrar estes vermelhos edifícios com mais de 800 anos a desfazer-se aos poucos. Uns dos pontos de interesse mais óbvios são as estátuas douradas de Buda, no Pagode de Ananda, bem como um antigo mural contando a vida de Buda, que preenchem as paredes do Templo Gubyaukgyi. Bagan é também famosa pelas suas artes e manufacturas, sendo o principal produtor de objetos envernizados. Poderá passar todo o dia a fazer compras no mercado, em Nyaung-Qo, mas é ao entardecer que surge a verdadeira beleza da cidade. Os raios de sol pintam os pagodes de dourado e ao subir ao cimo de um deles terá a mais privilegiada das vistas. Com carros de bois nos campos, pessoas a rodar nas bicicletas e monges embrulhados nas túnicas e a regressar aos mosteiros, é um cenário de absoluta serenidade. Mal se consegue acreditar que tal modo de vida ainda exista.


Apesar disso, ficará provavelmente agradecido pelo facto de os melhores aspectos deste mundo moderno em que vivemos poderem ser encontrados a bordo do requintado Road to Mandalay. O navio oferece alojamento de luxo e óptimas refeições e, à medida que navega pelo Ayeyarwady, poderá relaxar no convés e apreciar o cenário milenar da vida diária que se desenrola nas suas margens. O rio é a espinha dorsal do país e, como as estradas ainda são precárias, é o melhor meio de comunicação de pessoas e bens. Troncos de madeira partilham o espaço com os pescadores em canoas. O ritmo e viagem é sublime e no crepúsculo, à medida que as estrelas começam a brilhar, o navio parece deslizar pela água, sem qualquer esforço.
Ao terceiro dia atraca na pequena aldeia de Shwe Kyet Yet, a principal paragem do Road to Mandalay, a apenas 15 minutos de carro de Mandalay. Escolhida propositadamente para evitar a agitação da cidade principal, esta vila de bambu é um local privilegiado para passear a pé. De manhã cedo, os monges fazem fila desde o seu mosteiro para recolher oferendas dos aldeões, enquanto as meninas brincam a caminho da escola, homens idosos consertam bicicletas e mulheres idosas cozinham em fornos de barro.
Em Mandalay, antigos mosteiros em madeira, como o ornamentado Mosteiro de Shwenandaw, ombreiam com enormes templos, sendo o mais reverenciado aquele que foi erigido em honra de Mahamuni. No seu interior, os fiéis cobrem constantemente a sua estátua com folhas de ouro frescas. Estas são feitas localmente e é enriquecedor visitar uma das fábricas e verificar o quão difícil é fazer o ouro ficar tão fino. Ao pôr-do-sol, dirija-se para o lago Taugthaman através da ponte de madeira de U Bein. Monges, freiras, pescadores, ciclistas, abrem caminho pelas plataformas de madeira, formando silhuetas perfeitas na luz crepuscular.
Mais a montante no rio, servido apenas por um pequeno ferry, encontra-se o Pagode de Mingun, um projeto inacabado construído por volta de 1790 para albergar um dos dentes de Buda. A sua base gigantesca é maior do que as dos pagodes circundantes e teria sido três vezes maior do que qualquer um deles. A vista do seu topo é recompensadora, depois de uma escalada difícil, com degraus muito altos. Mingun é também o lar do maior sino em funcionamento do mundo – o maior de todos encontra-se na Rússia, mas já não é utilizado.
Não poderia haver melhor sitio para a despedida de Myanmar do que o topo das colinas de Sagaing, com vista sobre Mandalay e Shwe Kiet Yet, onde se encontra atracado o Road to Mandalay. Com os templos em cada margem do rio até ao horizonte, e as cintilantes luzes do navio na noite estrelada, é fácil perceber o que inspirou Kipling, quando escreveu o seu famoso poema sobre este local, com o refrão: “Come you back to Mandalay…”

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