quarta-feira, 10 de abril de 2013

Atravessar o Vale do Cobre em Chihuahua – México



Cortando as íngremes encostas de Sierra Madre, no noroeste mexicano, o Vale do Cobre em Chihuahua alberga um dos mais arrebatadores percursos de comboio do mundo. Ao longo de 653 km, o Chepe leva-o num percurso a mais de quatro mil metros acima do nível do mar – através dos planaltos de Chihuahua, até à planície costeira de Los Mochis, no Pacífico.
Esta não é uma qualquer viagem de comboio, em que se fica meramente a olhar pela janela. Há muito para ver e fazer, ao longo do trajeto, desde visitas às cidades mexicanas tradicionais ou às aldeias de índios Tarahumara, até a fazer caminhadas pelas montanhas. A maioria dos viajantes decide, por isso, interromper por uma ou duas noites uma viagem que leva cerca de 15 horas a fazer. Contando por dia com apenas um comboio turístico com 1ª classe – o Expresso Chepe Primera -, qualquer atraso significa ter de passar a noite no local. Estes comboios estão equipados com ar condicionado, vigiados por guardas fardados e têm espaço suficiente para rivalizar com qualquer voo em executiva.
O Chepe parte da cidade de Chihuahua no Mexico ao nascer do dia e não demora muito até penetrar nas amplas planícies relvadas. À medida que o calor diurno vai vencendo o frio da noite, o comboio percorre o seu caminho a grande velocidade, muitas vezes em perfeita linha reta. Daqui, poderá ter uma imagem da vida rural mexicana. Ao longo da linha, jovens e idosos, muitos deles usando os tradicionais panamás cremes, dirigem-se para os empregos, a pé ou de bicicleta. Um pouco mais tarde, passando pelas vilas de Santa Isabel e San Andrés, grupos de crianças de uniforme correm pelas ruas em direção à escola.

Depois da primeira paragem, na vila de Cuauhtémoc, o comboio atravessa pomares de macieiras com milhares de hectares, plantados pela população de Menonitas, que vieram para a região nos anos 20. As suas crenças religiosas remontam ao século XVI e a ensinamentos semelhantes aos dos Amish, vivendo de um modo tradicionalista, sem eletricidade ou automóveis. Cerca de 50 km mais adiante, em La Junta, o comboio inicia a sua subida às montanhas da Sierra Madre, acompanhando os verdejantes vales de pequenos rios. As janelas das portas nos intervalos das carruagens são as únicas que abrem, oferecendo a melhor vista. À medida que o comboio ganha altitude, a temperatura começa a descer.
Nesta fase da viagem e com o melhor ainda para vir, poderá maravilhar-se com o assombro que é construir uma linha de comboio nestas condições e neste local. Os carris acompanham o ondular das vertentes, com a rocha nua cortada para dar lugar à plataforma por onde rolam as composições. A complexidade de engenharia desta linha é tal que atravessam 36 pontes e 87 túneis. Completada em 1961, depois de quase 90 anos de construção intermitente, é reconhecida como uma das mais complexas obras de engenharia do mundo.
Muitos viajantes optam por passar uma noite na paragem seguinte, Creel, cidade que alberga uma serração e que é um bom ponto de partida para uma inclusão pelo Vale do Cobre, bem como por algumas aldeias Tarahumara. No entanto, se quiser ficar num local deveras especial, vale a pena seguir viagem por mais de 50 km até o comboio atingir Divisadero, uma minúscula vila com apensa um hotel, mesmo à beira do desfiladeiro. O Chepe faz uma paragem neste local, normalmente durante 15 minutos, para que se possa tirar fotografias. No entanto, é uma pena apressar esta passagem, especialmente pelo fato de o comboio parar aqui por volta do meio dia, altura em que a incidência do sol inunda de luz o desfiladeiro, retirando-lhe a imponência. Uma paragem de uma noite significa ficar alojado num hotel em que os quartos têm varandas suspensas sobre o desfiladeiro, sendo que o nascer e pôr do sol são únicos.
Divisadero é um bom local para uma caminhada guiada ao longo da berma do vale, ou então, para os que têm mais tempo, uma volta mais longa pelo fundo, o que implica acampar. Aqui, o terreno despido dá lugar a uma paisagem mais tropical, na qual crescem laranjeiras e mangueiras. O Vale do Cobre é a denominação utilizada para designar a junção de seis vales profundos, que cobrem, no seu conjunto, uma área quatro vezes maior do que o desfiladeiro do Grand Canyon, nos Estados Unidos. São, também, muito mais profundos do que este, sendo que o fundo do vale de Urique se encontra 1879 metros mais abaixo do que o topo da vertente.
Uma outra boa razão para parar em Divisadero é que poderá descansar por uma noite antes de iniciar a melhor parte da viagem. A linha de comboio mergulha numa série de incríveis túneis e em subidas acentuadas e serpenteantes, à medida que as vertentes e picos do vale se debruçam sobre a sua cabeça. Às vezes parece desafiar a gravidade, como que a despenhar-se junto a precipícios profundos, no fundo dos quais correm rios. Em Témoris passa por uma sucessão rápida de três curvas acentuadas, que lhe permitem ver os três níveis de altitude a que já esteve, o que o deixará surpreso. Com a cascata do Rio Septentrión e os seus pináculos monolíticos, Témoris é outra das jóias da coroa do Vale do Cobre.
A paisagem continua a cativá-lo à medida que se segue viagem rumo a El Descanso e Loreto, atravessando pontes altas e rodeando magníficos lagos. Eventualmente, o relevo torna-se mais suave, a temperatura volta a aumentar e o comboio volta a ganhar velocidade rumo ao ocidente e à costa do Pacífico, em El Fuerte. Los Mochis é a última paragem da linha, mas não tem grande interesse para uma visita, pelo que a maioria das pessoas se dirige logo a El Fuerte, com a sua majestosa praça cercada de palmeiras e o seu passado colonial.

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