domingo, 7 de abril de 2013

Descobrir os fiordes da Patagónia em Puerto Montt e Puerto Natales- Chile

Se apanhar um cruzeiro que percorra as milhares de ilhas selvagens do arquipélago de Chonos, nas águas do Sul do Chile, pode encontrar mais baleias, golfinhos e icebergues do que era imaginável. O melhor é que não precisa de gastar uma fortuna nesta viagem de quatro dias, pois este cruzeiro é uma das grandes pechinchas do turismo mundial.
Em primeiro lugar, este não é um cruzeiro normal. Até meados da década de 90, a viagem a bordo do navio entre Puerto Montt e Puerto Natales, na Patagónia profunda, era o domínio de camionistas que queriam evitar uma viagem de 1450 km para sul em estradas de qualidade duvidosa e de alguns viajantes mais sabedores dispostos a dar no duro para conseguirem vislumbrar uma das áreas menos exploradas do planeta, durante o caminho para o parque nacional Torres del Paine.
À medida que se espalhou a notícia da existência desta maravilhosa viagem, o número de viajantes aumentou. Os donos do navio, Navimag, decidiram então acrescentar algum conforto para que os passageiros pudessem dormir. São fornecidas três refeições por dia e pode levar-se tanto vinho chileno quanto caiba na mochila. Irá divertir-se com a especial camaradagem e o espírito de festa que surge num cruzeiro de quatro dias a bordo de um navio recheado de vinho. E os camionistas também vão na viagem. É bastante básico, mas tremendamente divertido.

Navegando pelo brilho da luz noturna, o navio depressa deixa para trás as coloridas casas de madeira de Puerto Montt e desliza pelo Golfo de Ancud, passando pela Ilha Chiloé – uma das paragens de Darwin, a bordo do seu HMS Beagle. Em terra, as impressionantes formas de dois vulcões cobertos de neve – o cónico Osorno e o irregular Hornopiren – trespassam o horizonte plano.Quanto mais se dirige para sul, mais selvagem se torna a paisagem, não havendo sequer uma ou outra aldeia a acalmar a sensação de que está a viajar em território desconhecido. Darwin e os seus companheiros exploradores acharam as ilhas impenetráveis, afirmando: ” Quanto às florestas – as nossas caras, mãos e queixos são testemunhas dos maus tratos quer recebemos, quando apenas tentávamos entrar nas suas imediações”.


Os canais entre as ilhas estreitam-se por vezes de forma preocupante e chega a parecer impossível o navio passar sem encalhar em terra – mas a parte mais excitante da viagem começa quando chegamos aos espaços grandes, abertos e por vezes selvagens do Oceano do Sul. A travessia do Golfo de Penas – à letra “Golfo dos Sofrimentos” – é de proporções lendárias. As horas que a antecedem são preenchidas por conversas nervosas sobre aquilo que se vai encontrar e por relatos de histórias em segunda e terceira mão sobre experiências passadas de viajantes. O oficial de apoio aos passageiros aumenta a tensão quando começa a distribuir pastilhas gratuitas contra o enjoo.
O que se segue depende da sorte – ser atirado de um lado para o outro pelo ar, dentro da sua cabina, durante toda a noite, constitui segundo os camionistas, uma boa travessia. De qualquer forma, as pastilhas ser-lhe-ão úteis. A recompensa por sobreviver ao golfo é a visão de uma paisagem encantadora com montanhas selvagens, icebergs e glaciares, águas cheias de focas, baleias e golinhos. Eram as antigas rotas comerciais dos temíveis índios Teheuleche, o único povo nativo sul-americano que resistiu com sucesso aos invasores espanhóis. Os seus últimos descendentes, os Kawéskars, ainda vivem em povoados espalhados pelos canais do sul. O navio Puerto Éden pára então numa aldeia com o seu nome, para descarregar mercadorias e mantimentos, dando oportunidade aos passageiros de comprar artesanato.
A última noite a bordo é noite de discoteca. Quando a Patagónia nos presenteia com os seus espetaculares céus crepusculares – bem, teria mesmo que estar lá para compreender o efeito que quatro dias a bordo de um navio, uma reserva de vinho Gato Negro completamente esgotada e alguns clássicos dos Abba podem fazer num grupo de pessoas supostamente adultas e sensatas. Faz-nos perceber, de forma hilariante, que o dinheiro nem sempre compra as melhores experiências.
Ao amanhecer, o capitão guia o navio através da incrivelmente pequena Angostura Inglesa (Estreito Inglês) até ao majestoso estreito de Last Hope, com as suas nuvens de formas alienígenas. Os telhados de zinco de Puerto Natales, a última paragem, brilham ao longo da margem, mas ninguém terá pressa em desembarcar.

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