terça-feira, 9 de abril de 2013

Explorar o reino do urso polar em Churchill – Canadá



Todos os Invernos, nos extremos Norte de Manitoba, em Churchill, situada nas margens da Baía de Hudson, os ursos polares reúnem-se à espera que a água congele para iniciar a caça à foca. Explorar o seu mundo a bordo de um buggy gigante constitui uma viagem inesquecível pelas tundras selvagens, junto ao Ártico. A recompensa pode ser comovedora e divertida, pelo encontro com estas criaturas de belo pêlo branco, mas predadores exímios e mortíferos.
Há muitos locais no mundo considerados remotos – até se conhecer uma vila como Churchill. Nunca chegou a ser construída nenhuma estrada até lá, de modo que só existem duas maneiras de a alcançar, de avião – num voo de duas horas e meia a bordo de um velho avião bimotor de hélices – ou de comboio, o que demora pelo menos 36 horas. Ambos partem de Winnipeg. Qualquer que seja a escolha, a chegada será um choque. A única altura do ano em que é possível avistar os ursos é o período de seis semanas é no final de Outubro e meados de Novembro – tempo frio, portanto. Muito frio. Não tanto como em Janeiro, mas o suficiente para fazer com que os casacos de penas, polares e à prova de vento se tornem essenciais.
À primeira vista, esta vila – fundada em 1717, como um posto mercantil da Companhia de Hudson Bay – parece isolada e esquecida. Mas uma pequena olhadela à sua volta, à chegada, fá-lo-á ver para além das ruas, das casas geladas e das tundras e conseguirá ter uma amostra da cultura Inuit, o povo caloroso e resistente que aqui construiu o seu lar. Existem três coisas em grande abundância, ursos polares – Churchill é a sua capital mundial – vistas do horizonte sem qualquer obstáculo e pessoas com carácter para dar e vender. Parece que toda a gente, desde o condutor do autocarro até ao empregado do restaurante, possui um leque impressionante de piadas irónicas e graças prontas a disparar. Quanto mais tempo permanecer aqui, mais este povo e a paisagem impressionante se entranham em si, ao mesmo tempo que começa a compreender o apelo do seu isolamento.
Contando com poucas atividades lúdicas, para além de um bar, uns poucos restaurantes e, se tiver sorte, uma aparição etérea de uma aurora boreal, a busca dos ursos polares é a principal atração. No ar cortante da manhã, o sol sobre por trás de Kelsey Boulevard, a rua principal de Churchill. Viajando num autocarro escolar antigo durante meia hora ao longo da margem da baía, chega à estação onde o aguardam os carros especiais para a expedição (uma espécie de buggy todo-o-terreno). Estas máquinas monstruosas são a obra-prima de um dos guias locais – fabricadas em Churchill – e contam com pneus suficientemente grandes para flutuar pelo terreno mole.

Podem parecer exagerados perante a natureza circundante, mas ao mergulhar no primeiro charco perceberá que são a única maneira de viajar neste terreno inóspito. O seu impacto na paisagem é limitado, pois confinam-se a um número restrito de trilhos, muitos destes feitos por tanques americanos, Churchill foi base estratégica desde a II Grande Guerra até meados dos anos 80.
Tal como em todas as viagens cuja temática é a natureza selvagem, a paciência é uma virtude, mas sondar a paisagem de tons castanhos e brancos em busca de sinais de vida é distração mais do que suficiente, à medida que o veículo se dirige a Gordon point e, mais para leste, a Watson Point. Para além dos ursos, poderá avistar outros habitantes desta paisagem, tais como os caribus, as lebres e raposas do Ártico ou corujas brancas. É excitante observar qualquer forma de vida selvagem, mas avistar um urso polar reveste-se sempre de uma mística especial. os olhos treinados de alguém experimentado como David Hatch são uma ajuda, pois os ursos deixam marcas mais visíveis quando o terreno não se encontra coberto de neve.
No entanto, raramente permanecem no mesmo local durante muito tempo. Adoram brincar às lutas e, se esperar um pouco, poderá ver que começa, a medir forças, lutando até se porem em pé, assentes nas patas traseiras, trocando empurrões e patadas. Com o peso dos machos a rondar os 500 ou 600 quilos, colocam-se claramente na categoria de pesos-pesados, apesar de ser rara a ocasião em que infligem danos ao opositor. Por vezes, as fêmeas são vistas a escoltar as suas crias, à medida que atravessam milhares de lagos. As suas patas extremamente largas, com negras palmas almofadadas e garras protuberantes, ajudam a dividir o seu peso no gelo fino.
À medida que a baía de Hudson começa a congelar, o que poderá acontecer numa questão de pouco dias, debaixo de temperaturas da ordem dos -20º C, ou mais baixas ainda, os ursos começam a rondar em busca da sua refeição predileta, as focas. Percorrem grandes distâncias sozinhos acompanhando o passar das estações e a formação do gelo sazonal, procurando os buracos que as focas usam para subir à superfície. Aí aguardam para a emboscada.
Após permanecer na tundra durante alguns dias irá aperceber-se que, o que lhe pareceu um ermo isolado e sem vida, afinal fervilha de atividade através da sua bela natureza selvagem.




0 comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...