domingo, 7 de abril de 2013

Museu do Fado em Lisboa

Com vistas para a Igreja de Santo Estêvão, no coração do Bairro de Alfama, o Museu do Fado conduz o visitante numa viagem que o leva pelas casas de mau porte do século XIX até aos salões da aristocracia, sem esquecer as casas de Fado, a guitarra e os pintores que retrataram o Fado. Sempre ao som dos mais de 10 temas que acompanham a visita, em audioguia.
À entrada do edifício que foi a antiga estação elevatória de águas, três painéis com uma montagem fotográfica traçam uma primeira imagem da história do Fado. Lado a lado estão compositores, intérpretes, poetas e guitarristas, retratados em várias fases da carreira. O vão do edifício deixa ver o conjunto dos painéis, que vão do primeiro piso à cave. Em cima estão os mais antigos, no piso térreo as vozes que marcaram o século XX e, na cave, junto à escola, as vozes do presente e do futuro.
É no piso térreo que começa a visita, acompanhada por um audioguia que permite ao visitante organizar o percurso a seu belo prazer. A interatividade, com diversos ecrãs para consulta, é uma constante. No piso térreo, além do painel fotográfico são abordadas as origens do fado, nascido nos bairros de Alfama, Moraria e Madragoa.À chegada ao piso superior a vista escancara-se sobre Alfama e a Igreja de Santo Estêvão. Aqui é possível consultar os três ecrãs interativos com um mapa de Lisboa e a localização das casas de Fado, com informações sobre cada uma delas. Um pouco mais à frente, Amândio e Adelaide da Facada dão as boas-vindas ao visitante a partir da tela de Malhoa o Fado. O casal, ele fadista e pequeno delinquente, ela “mulher da vida”, existiu mesmo e Malhoa esteve na casa de Adelaide, na Rua do Capelão, durante 35 dias para pintar o quadro. A obra onde são visíveis alguns elementos que remetem para o universo do fado, como a guitarra, o xaile, as bandarilhas ou a estampa com o toureiro, foi recusada pela intelectualidade da época. Estávamos em 1919 e o fado não era “digno” de figurar num quadro de um pintor consagrado. Se os intelectuais o recusaram – só foi exposto sete anos mais tarde – a gente do fado deu-lhe de imediato o seu aval.


Ali perto, um piano de sala e algumas partituras lembram que, em pouco tempo, o Fado passou dos bairros mal-afamados para os palácios da aristocracia. Com a guitarra mais antiga do espólio do museu, feita em 1890 por Manuel Pereira dos Santos, e uma maquete construída por Alfredo Marceneiro que retrata “A Casa da Mariquinhas”, um bordel de Lisboa, ficam dados os primeiros acordes para a história do Fado.
Daqui para a frente seguem-se as abordagens que o fado teve nas diferentes artes. Mais uma vez na pintura, com o tríptico de Constantino Fernandes “O Marinheiro”, na revista, na televisão e no cinema, com a possibilidade de ver cenas dos filmes sobre o Fado.
Ao avançar pelo espaço, avança-se até à década de 30, marcada pela censura. Datada de 1927, a lei da censura obrigou a que os artistas passassem a ter carteira profissional – controlando o estado quem podia ou não atuar – e a que o Fado deixasse de ser cantado na rua. Nasceram assim as casas de Fado. Os temas também passaram a ser censurados – é possível ver folhas A4 riscadas pelos censores. Mas a censura teve um benefício: o registo do repertório de fado que, até então era transmitido oralmente.
Ao longo da visita é possível descobrir os intérpretes que marcaram a internacionalização do fado, como Berta Cardoso. Depois coube a Amália, com as viagens a África e ao Brasil e, sobretudo, depois do filme “Les Amants du Tage”, de Henri Verneuil, a divulgação do fado a nível mundial. Ao mesmo tempo, é lembrado o seu caráter revolucionário ao trazer para o Fado compositores como Frederico Valério e poetas como Fernando Pessoa.
A história do Fado não fica completa sem a guitarra portuguesa a que o museu dedica uma sala. Além das origens – a guitarra inglesa que chegou a Portugal no século XVII com as reais feitorias – são também divulgados o seu fabrico e principais intérpretes. Na última sala reúnem-se nomes como Carlos do Carmo, responsável pela nova imagem do Fado depois do 25 de Abril, Paulo Bragança ou Mísia, que marcaram a continuidade do legado. Uma tela de Júlio Pomar, Carlos Paredes, honra a memória daquele que foi um dos principais mestres da guitarra portuguesa.

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