quinta-feira, 11 de abril de 2013

Navegar no Canal do Midi – França



Compreendendo uma parte considerável do sul de França, desde Toulouse a Agde, e parte da ligação entre o Oceano Atlântico e o Mar Mediterrâneo, o Canal do Midi é uma das maiores obras de engenharia europeia. Navegar pelas suas águas calmas e rodeadas de árvores, leva-o através de paisagens e vilas tipicamente francesas.
O canal foi concebido por Pierre Paul-Riquet e mais de 12 mil homens trabalharam na sua construção, que teve início em 1666. Tendo sido inaugurado em 1681, esta obra vital para a economia da região foi recentemente elevada pela UNESCO à categoria de Património da Humanidade. O seu início é em Toulouse, onde se junta com o canal lateral de Garónne, vindo do Atlântico, e serpenteia por mais de 240 km através da paisagem rural de Languedoc-Roussilon para Bassin de Thau, junto a Agde, na costa mediterrânea. O canal, outrora importante rota comercial por substituir uma viagem de três mil km contornando o sul de Espanha, é usado hoje maioritariamente por turistas em embarcações de lazer. Alguns fizeram dele a sua casa, mas a maioria visita-o durante as férias, passando uma ou duas semanas a tirar partido destas águas.

Partindo de Toulouse, passa pela encantadora povoação de Castelnaudary, cujos telhados de terracota se elevam majestosamente acima da linha de água. Este é o centro nevrálgico da região de Cathar, de onde a seita herética albigense espalhou a sua religião em oposição à Igreja Católica de Roma, no final do século XI. Esta foi massacrada pelos ataques da cruzada liderada por Simon de Monfort e depois perseguida pela Inquisição. As fortificações de Cathar povoam os topos das vertentes e os pontos dominantes da região, valendo a pena visitá-los.
Seguindo em direção a leste, o canal percorre gentilmente uma paisagem rural e ampla, à medida que se transpõem diversas comportas, incluindo uma bem pitoresca, rodeada de árvores, junto a Bram. Muitas destas comportas oferecem uma oportunidade de fazer uma curta pausa para um café e as de maior dimensão podem mesmo ser boas opções para pernoitar. Depois de Bram, alcança-se o vale de Aude, no qual repousa uma das verdadeiras joias desta viagem: a muralhada Carcassonne, cuja cidadela parece retirada de um qualquer conto de fadas. O canal segue rumo à parte mais moderada da cidade, um local ideal para permanecer durante uns dois dias, pelo menos. A Cité, o centro histórico, encontra-se protegida por uma muralha de dois anéis, contando com 52 torres e faz parte do património mundial da UNESCO.
Para lá de Carcassonne, o canal segue o seu caminho pelo vale de Aude, levando-o através da típica paisagem de vinhas a espraiar-se pelo horizonte, ao mesmo tempo que longas e ordenadas linhas de ciprestes, choupos ou plátanos fazem sombra Às suas margens. Estas árvores, para além de embelezarem mais todo o enquadramento, evitam com a sua sombra a evaporação e ajudam a fixar as margens com as suas raízes. Após se transpor as comportas em Trebes, a cerca de 8 km de Carcassonne, regressa a paisagem rural até se chegar à vila de Puicheric, ao fim do dia.
Provavelmente, irá passar os momentos mais memoráveis desta viagem, durante as paragens nas inúmeras vilas e cidades por onde passa. Uma vez ultrapassado o vale de Aude, mais a norte, a vila de Le Somail aguarda-o, com a sua casa da comporta coberta de hera, conferindo-lhe um aspeto de mundo encantado. Existe ainda uma bela igreja medieval e alguns restaurantes junto à linhas de água, onde a refeição se acompanha com um bom vinho tinto Languedoc e se observam os patos a nadar calmamente.
Após Le Somail, o canal volta a serpentear incessantemente passando por La Croisade e por Capestang – vila próspera na Idade Média, que retém vestígios da sua antiga glória, em especial na igreja colegial que domina a paisagem. Logo após a passagem de Poilhes passará pelo sul de Etang de Montady, uma planície famosa pelos seus campos resplandecentes. Vistos de um qualquer ponto alto parecem fatias de uma gigantesca tarte. A última grande povoação junto ao canal é a inquieta cidade de Béziers, a cerca de 5 km para leste, cuja catedral de Saint-Nazaire é a principal atração.
O Mar Mediterrâneo acena já ao longe, e durante o último dia de viagem – espera-nos o porto velho de Agde. Com a sua colorida frota de embarcações pesqueiras, é conhecido como a pérola negra do Mediterrâneo e constitui um final de viagem condizente com o percurso.



0 comentários:

Enviar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...