quinta-feira, 11 de abril de 2013

Nova Orleães a cidade mais condimentada dos Estados Unidos da América



Esta cidade no estado norte-americano do Louisiana, tem fama de ser a mais condimentada da América. A comida e a música, as noites e os dias, as festas e o Mississipi. É como se tudo em Nova Orleães fosse ligeiramente picante.
A memória do furacão Katrina é isso mesmo, uma memória. Nova Orleães recuperou do desastre, levantou a cabeça, voltou a ser toda charme. Quem atravessa a Boubon Street, epicentro da diversão noturna da capital do Louisiana, esquece-se facilmente de que, há poucos anos, aquela era uma zona inundada. Os edifícios do Bairro Francês estão recuperados, pintados de fresco, com roseiras nas janelas e bandeiras americanas nas varandas.
As coisas que permanecem iguaizinhas, garantem os habitantes, são precisamente as mais inesperadas. Como passear pelas margens do Mississipi e sentir o cheiro a lama misturar-se com o odor das fábricas de charutos e torrefações de café. Ou passar por baixo de uma janela e parar uns minutos porque, dentro daquela casa, há alguém a tocar trompete. E atravessar uma rua calma, ladeada de plátanos e oliveiras, virar uma esquina e dar de caras com um Carnaval fora de prazo. A maior festa da cidade, o Mardi Gras, é uma espécie de Entrudo mais ousado. As pessoas desfilam pela cidade e atiram colares de contas às raparigas, quem em troca mostram os seios. O atrevimento atinge o ponto alto em Fevereiro, mas é raro o sábado em que não dá a cara.
Nova Orleães é mesmo uma festa. Não é à toa que os americanos lhe atribuem tantas alcunhas. A Cidade Que a Prudência Esqueceu. Ou A Cidade mais a Norte das Caraíbas. Ou ainda a Hollywood do Sul, tantos os filmes que ali foram filmados. Mas o cognome que lhe assenta mesmo como uma luva, aquele que será porventura o mais justo, é The Big Easy. Na origem, foram os músicos que o atribuíram, dada a facilidade em arranjar trabalho, casa e companhia na cama. Mas os anos mostraram que é mais do que isso. Mergulhar em Nova Orleães é o mesmo que pôr um pé no mar com água à temperatura ambiente. É que não custa mesmo nada.
Além do jazz e do Mardi Gras, a comida é o grande cartão de visita da capital do Louisiana. Não é por acaso que a cidade de 350 mil habitantes é apontada como uma das principais capitais gastronómicas do país – e seguramente a capital da comida de fusão. Aqui, misturam-se as influências francesas, africanas, caribenhas com a comida caseira do Sul dos Estados Unidos. É toda uma experiência.
É inevitável começar pelo gumbo, sopa de arroz, feijão e salsicha picante, que está anunciado nas placas das portas de todo e qualquer restaurante. Ir a Nova Orleães e não provar uma tigela de gumbo é uma afronta. A alternativa, para quem se recusar determinantemente mas não quiser ofender ninguém, é provar um bom bife de crocodilo ou uma jambalaya, uma espécie de caldeirada de frutos do mar e salsichas. É possível encontrar estes pratos em todo o lado, mas se quer prová-lo em grande estilo, então vá ao Galatoire’s – onde é obrigatório usar casaco. Pode parecer demasiado formal para uma cidade tão descontraída, mas é de comer e chorar por mais.
O marisco é outra das atrações da cidade, sobretudo as ostras e o camarão-do-Lodo, pescado nos pantanais do delta do Mississipi, e em tempos considerado uma praga. Nada como experimentá-lo ao ar livre no French Market. Come-se cozido com cebolas e acompanha-se com as bebidas locais, um Hurricane ou um Bloody Mary. O primeiro é doce, o segundo é salgado, ambos são picantes. Também há as influências francesas. É difícil encontrar melhores croissants deste lado do Atlântico e as sanduíches, que aqui se chamam po-boys, são apresentadas em baguete.
Nova Orleães é um porto marítimo. Foi fundada por franceses, regida por espanhóis, governada por uns quantos déspotas americanos. E se há algo que todas as potências têm em comum é terem trazido para a cidade uma imensa população africana e caribenha. Primeiro, escravos, vindos por mar. Depois, escravos que não tinham estatuto e escravos, mas eram-no. E é dos seus descendentes que, no início do século XX, nasceu o jazz.
É difícil imaginar outro lugar do mundo com tamanha densidade de músicos na rua. Chegam com violinos e saxofones, trompetes, clarinetes, contrabaixos. Cantam que se fartam, não é como no jazz europeu, mais experimental. O que existe aqui é a Dixieland, que os blues de Louis Armstrong tornaram famosos. Melodias estruturadas em que, à vez, cada instrumento avança para o improviso.
A Jackson Square está sempre cheia, porque fica mesmo no centro do Bairro Francês, virada para a marginal. Isso significa que tem o Mississipi em frente, e está ladeada por lojas de todas as espécies e também por turistas, muitos turistas. Em Nova Orleães é comum ver os visitantes explorarem a cidade a cavalo ou de charrete, e todas as viagens começam e terminam aqui. No início do século XX, era também o cenário para duelos de cavalheiros, fosse de espada ou de pistola, por isso os habitantes de Nova Orleães dizem que a praça está apinhada de fantasmas.
Entrando nas ruas do bairro, notam-se logo os clubes de jazz e os restaurantes, mas também há saloons à antiga e bares de striptease. O mais surpreendente, no entanto, é a quantidade de casas de vudu, tradição importada da África Ocidental e das ilhas caribenhas. Estão pejadas de bonecos e agulhas, velas e incenso, frascos com rótulos tão assustadores como cauda de macaco, poção de sete ervas mortais ou pregos de caixão. A maioria das pessoas que estão atrás da porta são mulheres negras, que também lêem mãos e cartas. O ambiente é intimista – e merece, para satisfazer a curiosidade, uma visita.
Na zona dos hotéis, mesmo ao lado do Bairro Francês, começa uma outra cidade, bem mais moderna, mas também com muita coisa para ver. Todas as grandes cadeias têm aqui sucursais e não será injusto destacar dois: o Ritz Carlton e o InterContinental na categoria de luxo. Há passeios de barco no Mississipi em velhos barcos a vapor ou lanchas rápidas. Há os jogos de basquetebol dos Hornets e os de futebol americano dos Saints. Há um oceanário e um pavilhão multiusos onde não faltam concertos de bandas atuais. Há outros restaurantes, outros clubes, e continua a ser tudo ligeiramente picante.

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