quarta-feira, 10 de abril de 2013

Procurar os gorilas da montanha no Parque Nacional dos Vulcões – Ruanda



Ao escalar as encostas vulcânicas do maciço de Virunga, através das densas florestas de bambu do Parque Nacional dos Vulcões, poderá ter o privilégio de encontrar um dos nossos parentes mais próximos, os gorilas da montanha. Catapultados para a ribalta através do trabalho de Dian Fossey, encontrar um destes raros animais em perigo de extinção é uma preciosa e comovente experiência.
Alcançar o reino dos gorilas é uma autêntica aventura, à medida que se mergulha nas profundezas de África, Partindo da capital do Ruanda, Kigali, até ao norte do país, junto à fronteira com o Uganda e a República Democrática do Congo. Felizmente, o Ruanda encontra-se agora no bom caminho de recuperação do genocídio pelo qual passou nos anos 90 e que tão profundas marcas deixaram na população. A paz e a estabilidade permitem observar a verdadeira essência deste povo, que invariavelmente recebe os visitantes com um grande sorriso, acenos acolhedores e com o seu grito enternecedor “Misungu”.
Uma vez chegados a Kigali, seguir-se-á uma espetacular viagem de 3 a 4 horas de automóvel, rumo à cidade de Ruhengeri. Os alojamentos disponíveis na região são limitados, mas o que detém a localização mais privilegiada é, sem dúvida, o Virunga Lodge. Situado no topo de uma crista montanhosa, encontra-se rodeado de vulcões, podendo também observar-se dois enormes lagos: o Bulera e o Ruhondo. Todas as manhãs e fins de tarde, quando os nativos acendem as suas fogueiras, uma bruma alva de fumo faz aumentar a atmosfera de mistério que caracteriza esta paisagem.

Partindo bem cedo em direção ao Parque Nacional, atinge-se a aldeia de kinigi, a cerca de 15 km, após uma estrada bem acidentada. Cobrindo uma área que compreende seis vulcões, o Parque Nacional faz parte de uma iniciativa de conservação pioneira, que o liga a diversos parques do Uganda e da República Democrática do Congo, criando uma área de mais de 650 km2, com o intuito de proteger o habitat dos gorilas da montanha. Foi também este o lar de Dian Fossey, que se apaixonou por estes animais nos anos 60, tendo vivido no seu seio cerca de 20 anos e conduzindo estudos únicos, ao mesmo tempo que os tentava proteger de caçadores furtivos. O “Fundo Dian Fossey para os Gorilas” continua as suas atividades no parque, podendo ser encontrado um longo trilho na encosta do vulcão Bisoke que conduz à sua sepultura.
A expedição começa após uma curta viagem de carro, desde a sede do Parque até ao vulcão Sabinyo, com 3634 metros de altitude. Logo após deixarem os veículos para trás, bem como as multidões de crianças e outros aldeões que se despedem ruidosamente, trocam a paisagem cultivada pela densa floresta de bambu, à medida que mergulham no parque.
Mesmo à frente e fora do alcance visual, batedores perscrutam sinais de movimentação noturna dos gorilas. Vão à procura do Grupo 13, um dos grupos de gorilas residentes no parque, que é dominado por um macho de dorso prateado particularmente bem sucedido, chamado Munane. Tal como em qualquer outra viagem pela natureza selvagem, não há garantias – a procura pode demorar apenas uma hora ou mais de um dia, dependendo do que os gorilas estão a fazer ou da velocidade a que se deslocam.
As chuvas sazonais transformam o frágil trilho numa autêntica confusão. Depois de escorregar e deslizar por alguns lamaçais, decidimos que o melhor era ir sempre a direito, em vez de o tentar seguir. Penetrar através do bambu é muito divertido e dá uma enorme sensação de aventura, que vai crescendo à medida que se sobe a encosta. Surgem os batedores à nossa frente, mas os gorilas, ficam sempre com algum avanço.
Deixando as mochilas para trás – podem assustar os gorilas – saímos do trilho principal mais uma vez. Para surpresa, avistámos o nosso primeiro gorila, o possante Munane, quase de imediato, sentado na erva de uma pequena clareira e a observar-nos intensamente. Foi um momento incrível, apesar de algo tenso, pois sabíamos que o resultado deste encontro dependia do nosso comportamento. Mal conseguíamos respirar, enquanto os guias emitiam alguns sons graves para o acalmar e para lhe dizer que não éramos uma ameaça. Munane parecer aceitar calmamente a nossa chegada. À sua frente, encontrava-se uma jovem e terna fêmea, que tinha nos braços uma cria com cerca de cinco meses. Era uma das nove fêmeas de Munane – um número invulgarmente elevado de admiradoras.
Os encontros com gorilas devem ter uma duração máxima de uma hora, mas essa hora parece durar uma vida inteira, ao observar a vida quotidiana do Grupo 13, a cria que parece querer comer tudo À sua volta, trepando pela sua mãe ou pelas canas de bambu até estas partirem e ela rebolar pela relva, provoca risadas abafadas. Foi como observar uma família normal a fazer um piquenique, num domingo à tarde.
No dia seguinte, partimos em busca do grupo de Susa – um caminho inesquecível pela encosta do maior vulcão do Ruanda, o Karisimbi, com 4507 metros de altitude. A viagem de carro até lá leva-nos por aldeias em que as crianças brincam nas ruas com arcos e onde os adultos transportam em frágeis bicicletas quantidades inacreditáveis de coisas, tais como galinhas, cerveja, feno, etc.
Hora e meia mais tarde, os batedores aparecem, fazendo-nos descer uma encosta quase vertical até ao encontro de um grupo de cerca de 20 gorilas, numa clareira larga. Ao contrário do Grupo 13, que se encontrava a descansar, o Grupo Susa conta com quatro machos de dorso prateado, nove fêmeas e um sem número de crias, que se encontravam bem atarefadas a alimentar-se e a brincar. Ao longo de uma hora, mágica, observámos os gorilas jovens, lutando e caindo, enquanto os mais velhos se movimentavam lentamente à sua volta, mastigando lentamente o seu bambu. Para recordação, o grupo revelou-se-nos a sua mais nova cria, com cerca de duas semanas. Todos os encontros com animais selvagens têm os seus encantos, mas conhecer os gorilas é totalmente diferente. É como andar milhões de anos para trás e olhar ao espelho para encontrar um reflexo bem aproximado de nós próprios.

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