
Com início em Singapura, segue um percurso histórico de 2030 km que, ao longo de três dias, o leva pelas terras baixas ocidentais da Malásia até à capital, Kuala Lumpur, partindo daqui para a fronteira com a Tailândia. Junto a Banguecoque faz um desvio para atravessar a famosa ponte sobre o Rio Kwai, cenário inspirador de uma das mais impressionantes histórias da II guerra Mundial.
Singapura é uma cidade cosmopolita, de arranha-céus e de um grande porto marítimo. Com influências chinesas, malaias e indianas, uma mistura das principais culturas asiáticas, é bem merecedora de uma visita de um ou dois dias, antes de iniciar a sua viagem. Uma vez chegado à Estação de Keppel Road, uma estrutura sombria, terá início à sua experiência a bordo do Expresso do Extremo Oriente. Carregadores levam a bagagem e o sorridente pessoal de acolhimento acompanha-o à elegante carruagem e convida-o a entrar, servindo um cocktail. Dentro dos compartimentos, mobília de roseira e candeeiros ornamentados fazem-lhe sentir o calor do acolhimento. Muitos passageiros acham suficiente ver o mundo a passar pela janela daquela cabina com ar condicionado e resistem a sair.
No entanto, seria uma loucura perder a vista requintada proporcionada pela carruagem aberta na retaguarda da composição. As torres de cimento de Singapura depressa ficam para trás, à medida que se atravessa o Estreito de Johor. Vem então o verde profundo das plantas e das folhas enormes das árvores da floresta húmida. A linha é quase sempre única e, por vezes, a vegetação invade-a e roça ambos os lados das carruagens, à medida que se dirige a Kuala Lumpur. Uma curta paragem na capital da Malásia, ao início da noite, permite-lhe saltar do comboio para uma rápida olhadela às torres Petronas, de 88 andares, com os seus 452 metros de altura.De regresso a bordo é tempo de tomar a primeira das suas refeições requintadas – tão boas que qualquer dieta fica adiada. São pensadas para lhe oferecer algumas especialidades locais, de modo a saborear o continente que vê pela janela. No sumptuoso restaurante a bordo, em que é essencial trajar a rigor, o apogeu da elegância das viagens de comboio ganha vida. Obviamente, nenhum Expresso luxuoso estaria completo sem um pianista a bordo e, à medida que o Expresso do Extremo Oriente rola pela península malaia, poderá dançar pela noite fora ao som de uma escolha ecléctica de jazz e clássicos modernos.
O comboio mantém uma velocidade surpreendente e, na manhã seguinte, acordará ao nascer do sol para verificar que se encontra rodeado de água, uma vez que o comboio atravessa uma passagem estreita sobre um lago. Com a luz do dia, os intermináveis arrozais ganham vida à medida que um pequeno exército de trabalhadores salta para a água para plantar ou apanhar arroz, enquanto outros conduzem carros de bois que lavram ao longo de linhas retas. Sempre que o comboio pára numa passagem de nível ou cruzamento, um enxame de motorizadas fazem fila para acenar, enquanto esperam para atravessar.
À medida que se aproxima do extremo da Malásia, a linha muda de sentido rumo a ocidente para Butterworth, na costa do Mar de Andaman, onde se fará uma curta excursão até à ilha de Penang e à sua capital colonial, George Town. Outrora domínio britânico, da propriedade da Companhia das Índias, a cidade é agora um mercado efervescente, a que se acede por ferry numa viagem de 15 minutos. A melhor maneira de se movimentar na cidade é de requexó.
De regresso ao Expresso, a fronteira com a Tailândia aproxima-se ao passar por uma paisagem impressionante de torres formadas por rochas calcárias. À medida que o sol desce rapidamente no horizonte, a carruagem de observação permite apreciar os raios de sol dourados que banham o comboio e a paisagem circundante, de um verde luxuriante. A fronteira tailandesa é ultrapassada com uma breve paragem para as formalidades alfandegárias e, enquanto dorme na sua cabina, o Expresso continua a todo o gás rumo ao norte, a Kanchanaburi, junção para a linha que atravessa a ponte sobre o Rio Kwai.
Construída em 1942 pelos japoneses, usando mão-de-obra dos prisioneiros de guerra, a ponte, que permite um leque alargado de ligações, era o elemento chave da ligação de caminho de ferro entre a Birmânia e a Tailândia. Dezenas de milhares de prisioneiros morreram na sua construção, sucumbindo ao calor, fome ou doença. As forças aliadas bombardearam a ponte repetidamente até que a destruíram em 1944. É um ponto fulcral da acção do romance de Pierre Boulle, ” A ponte sobre o rio Kwai”, e tornada famosa com a sua adaptação para cinema. Existe um museu excelente, no Centro de Caminho de Ferro Tailândia-Birmânia, na localidade próxima de Ban Lin Chang, que conta a história horrível da sua construção.
Pouco tempo depois de deixar o Rio Kwai, o comboio atinge os subúrbios de Banguecoque, com casas rudimentares construídas a centímetros da linha. Uma visita à noite ao centro da cidade, com as suas luzes brilhantes a vida sempre activa, é a melhor maneira de acabar esta viagem luxuosa através do coração do sudeste asiático.
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