quarta-feira, 10 de abril de 2013

Viajar no Rio Yukon – Canadá



Uma das mais famosas “febres do ouro” ocorreu em 1897, quando ele foi descoberto em Klondike. Porém, esta foi muito mais do que uma história de riquezas e glórias. Para chegar ao seu destino, os aspirantes a mineiros tinham que se aventurar numa jornada perigosa pelo rio, desde Whitehorse até ao local que ganhou a denominação de Dawson City. Hoje em dia, com equipamentos modernos, remar neste percurso é uma das melhores maneiras de visitar o Yukon selvagem, ao mesmo tempo que se prova o sabor do que era ser pesquisador.
Percorrer 742 km numa semana, a remar entre Whitehorse e Dawson City, por uma paisagem quase ausente de civilização, significa que esta é uma viagem que deve ser bem planeada. Irá necessitar de provisões, um fogareiro, cadeiras e, inclusive, mesa para jantar. Com a ajuda de um habitante de Whitehorse bem experimentado na arrumação de canoas, verá que até uma tábua de queijo cabe ali.
Antigamente, os aspirantes a mineiros chegavam a Whitehorse depois de uma longa caminhada de 53 km através das montanhas, desde Dyea, junto a Skagway na costa do Alasca. Durante os invernos rigorosos, muitas pessoas morriam congeladas e outras sucumbiam ao cansaço de transportar enormes cargas, além dos pertences. Aqueles que conseguiam sobreviver, viam-se obrigados a construir os próprios barcos nas margens do Lago Bennet, para vencer o Rio Yukon e os seus rápidos, muito embora os mais perigosos se encontrem a montante do início da viagem, em Miles Canyon.
O Rio Yukon no Canadá, com 3700 km de comprimento corre em direção ao Mar de Bering, a par do Missouri, e é o segundo maior da América do Norte – o mais comprido é o Mississippi. Visto de Whitehorse, parece largo e calmo, mas de perto verá que a corrente é forte e rápida. A transbordar de equipamento e víveres, a canoa parece pesada e pouco ágil, quando é lançada ao rio. A corrente leva-a apressadamente, até atingir a vasta extensão do Lago Laberge. Remar junto à margem leste revela-se um verdadeiro desafio.
Se apanhar um dia bom, será um passeio agradável, de águas calmas e sem nenhuma preocupação, podendo apreciar a luz dourada da noite. No entanto, quando há vento, o que acontece rapidamente e sem aviso, o lago transforma-se num mar revolto, pleno de ondas altas. Sejam quais forem as condições climatéricas, atravessar o lago demora cerca de seis horas. Antes de assentar e montar acampamento na margem, será aconselhável procurar marcas de passagem de ursos.
Ursos pardos ou negros são comuns nesta região e bloquear a passagem costumeira de um urso com a sua tenda não é a melhor maneira de iniciar a viagem. Deve também ter em conta os conselhos que lhe lhe darão – cozinhar num local afastado das tendas e guardar a comida num local inatingível, nomeadamente pendurada numa árvore. Se tiver sorte, apenas avistará um urso a partir da sua canoa.
O troço mais complicado do Yukon, com corrente rápida e curvas muito apertadas, é conhecido como a Thirty Mile, e é aqui que começará a observar marcas da época áurea da “febre do ouro”, velhos cais de madeira e cabanas que armazenavam combustível para os barcos a vapor que rumavam a Dawson City, quando a febre já dava os seus frutos. Era uma passagem de grandes dificuldades e perigosa, o que pode confirmar o SS Klondike, agora engolido pelo lodo, antes de chegar à ilha de Hootalinqua, onde jaz o SS Evelyn. Este enorme barco, agora em lenta decomposição, foi construído em 1908, para ser abandonado um ano depois.
Ao vaguear pelo próprio convés carcomido, afastado do rio e colocado no cimo de uma rampa, terá a sensação de todas as expectativas goradas daquelas pessoas que participaram na “febre do ouro”. Das 100 mil pessoas que vieram em busca de fortuna, apenas 30 mil chegaram de fato ao seu destino. Após a ilha, a corrente vai ficando mais fraca e terá, talvez, a sorte de encontrar alguns alces e fazer a travessia do Rio, com as suas imponentes armações arredondadas, ou mesmo algumas águias carecas, rasando as águas para apanhar peixe. Neste troço a corrente pode ficar suave, que poderá levantar os remos, encostar-se e apreciar a natureza circundante. Então será quase num sobressalto que avistará a localidade de Camacks, que alberga uma das quatro pontes sobre o Rio Yukon.
Os rápidos mais difíceis de transpor aguardam para lá de Camacks e são conhecidos como Five Fingers. Causam algum susto, mas uma vez transpostos, estará de volta a águas tranquilas. Partindo de Minto, um bom sítio para pernoitar, até Fort Selkirk, é uma curta viagem. Esta é a comunidade mais bem preservada no vale do rio, mantendo os seus traços desde os pioneiros. Foi fundada como posto de comércio em 1848, por Robert Campbell, da Companhia da Baía de Hudson. Veio a tornar-se num dos principais pontos de paragem durante a febre, tendo mesmo chegado a albergar uma esquadra de polícia.
Percorrer as suas ruas e admirar as casas de madeira dá-lhe uma boa ideia de como era viver aqui naquela altura. A parte final da viagem parece levar demasiado tempo, à medida que o leito do rio se alarga e a corrente se torna mais lenta, mas a espera vale a pena. Dawson City é única, com ruas de terra batiuda, passeios e habitações de madeira pintadas de cores vivas, ainda que algo degradadas. É como entrar no cenário de um filme Western. Era aqui que acabava a viagem de muitos dos que vinham em busca do ouro e o local ainda invoca a sua forma de vida sem lei, dura e célere. Ainda hoje pode garimpar o rio em busca do metal brilhante. Se tiver sorte poderá não querer sair mais de lá.

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